quarta-feira, 30 de junho de 2010

Caranguejona


Fiz jardinagem essa manhã e não resisti, cai na lama. Fazia tempo! Ao entrar em casa, me sentia muito gostosa, não resisti, fiz uma foto e quando a vi, disse: Putain, metade francês, a outra metade, português, não que é minhas pernas estão lindas? Trés sexy, pas mal, finalizei em francês.

Olhei de novo. Não era eu. Era a foto da publicidade das botas Aigle, uma marca bastante conhecida na França e que, para esta pub, tem o seguinte slogan "para a reintrodução do homem na natureza". Pour la reintroduction de l'homme dans la nature. Adorei a foto, a ideia e a pub. Sugestivo?

Estética Selvagem


Toda vez que vejo o prefeito da cidade, fico tímida. Pois é, tímida. Exatamente igual a quando me esbarro com um ídolo, quando vejo Arnaldo Antunes na Vila Madalena com a namorada ou no Shopping Iguatemi com os filhos.

O prefeito não é um pop star, mas acho que ganhou uma fã. Ele é chique e simples ao mesmo tempo. Acessível. O vejo pelas ruas acompanhado de seus assistentes em discussões que, se eu conseguisse ouvir bem, devem ser bem eloquentes.

Engajado em causas de cidadania, como "desenvolvimento durável, reciclagem versus lixo, mesmo a coisa funcionando bem na França, uma de suas ações que achei o máximo foi adotar a "estética selvagem" para Marcoussis.

Ao invés de cultivar flores exóticas para seu entorno, que gastam mais água e energia para sua manutenção, ele optou a preservar flores que nascem espontaneamente na região, na estação, como margaridas selvagens.

Ação, aparentemente, pequena. Economia de água. Bom aproveitamento dos recursos da Terra. Favorecimento da biodiversidade. Contribuintes pagam menos. A cidade fica charmosa. Todos ganham. Ações dia-a-dia, não isoladas. Bravo! 
  

terça-feira, 29 de junho de 2010

Cage aux Folles - à bientôt

Foto de espetáculo Cage Aux Folles @Dr. Greg Soussan

Em breve, matérias-post sobre:

Cage aux Folles (Gaiola das Loucas) - Nova versão teatral francesa reestreia em Paris, no próximo setembro

Les Bronzés - Conhece a saga desse clássico cinematográfico? Bronzeados e que ainda fazem esqui?!

Christian Clavier - Apesar de fazer o público rachar o bico de rir, o ator teve grande destaques em Napoleão, série dramática para TV 


segunda-feira, 28 de junho de 2010

Caetano Veloso na Defesa

Ontem em La Defense, Caetano cantou músicas que, pra mim, foram iguais aos jogadores do nosso atual time de futebol. Não conhecia quase nada. Somente umas 2 canções que, agora não me lembro mais. Uma era do Rei. 

 "Viva Roberto Carlos", - Caetano disse ao fim da música, e foi ovacionado pela plateia.

Embalada pela voz que continua melódica e afinada, Luna vestida com camiseta do ACDC, dançou a la Jim Morrison. Mas não nos deixou curtir o concerto, gravar ou fotografar. Queria se perder na multidão. Mudamos de planos.



Fomos nos encontrar com amigos a alguns passos dali que jogavam petanque, ouvindo Caetano em bg, sem nem saber quem era.

Em Paris, La Defense é o único lugar que se pode construir prédios altos. E tem vários "cantos" realmente públicos e familiares nos findes. O irmão do Mathieu havia feito salada de frango ao curry. Jantamos ao ar livre. 



Sentei-me num banquinho, tomando cerveja. Observei. Paris não é loira. Dois homens com corpos musculosos e elegantes faziam cooper entre os prédios e calçadões. Eram namorados. Logo, do outro lado, do nada, surge uma asiática.

Toda de negro. Kimono e guarda-sol, sapatos justos. A imagem surrealista some por detrás dos arranhas-céus da Defense.



Num outro canto, balões de aniversário decoravam o ao redor de uma mesa onde uma família batia papo enquanto suas crianças brincavam. Luna foi se apresentar, e se divertiu bastante com elas. Eram 8 da noite, pareciam 4 da tarde. Pleno verão.

Tomei o último gole de cerveja, coloquei a tampa na lente. O show terminou, não me lembro se houve bis, mas Mathieu estava um gato!


sexta-feira, 25 de junho de 2010

"Rãzinhas" amigas do planeta


Constantando que em festas ao ar livre a quantidade de copos plásticos que se encontrava no chão gerava muito lixo, a Prefeitura de Marcoussis adotou uma medida simples e eficaz. Nas festas da cidade, não há mais copo descartável.

Paga-se 1 euro pelo simpático copo (foto acima), enche com a bebida que quer. No final da festa, troca-se o copo pelo 1 euro. Ou, se preferir, deixa o dinheiro, fica com o copo. Prefiro a primeira ideia, vai que esqueço o copo pra breja!

Parc des Célestins


Nossa casa foi um achado. Mal há imóveis pra vender ou pra alugar, quem entra em Marcoussis, não sai. Estamos ao lado do centro cultural e de lazer da cidade. Festas ao ar livre. Cinema, Escola de Belas Artes, Halte Garderie. Tudo há 250m de casa. Tudo num mesmo espaço verde. No Parc des Célestins.


Há o Ciné Bebé, curtas-metragem que duram ao total menos de 1 hora, para levar a criançada. Para os papais, 1 filme diferente em cartaz por semana, com 2 alternativas de horário/dia. Não é muito, mas tudo bem, o importante é que estamos ao ladinho o único cinema da cidade.


Antes de almoçar, compro a baguete e passo no parque pra Luna brincar e se integrar com os francesinhos. Final da tarde também. Mathieu chega do trabalho e nos encontra lá. Final de semana, eba, piquenique no Parc des Célestins! Mesmo nos eventos à noite dá pra ir e o melhor, andando. Sem carro.

Erudição de bolso

Quando quero impressionar algum francês, chuto e uso palavras de raízes latinas, pouco coloquiais e voiláBucolicErudit.  Sempre funciona. Mas têm que se encaixar bem no contexto. Como recompensa, ganho uma taça de tinto ou rosé, seguidas de seguintes exclamações: Bravo! Você conhece bem as palavras francesas. São as latinas, né?!

Mediatéque


Descobri a “Midiateca” de Marcoussis. Lá, cada o1 morador da cidade pode pegar  emprestado DVDs, HQs, livros, revistas, tudo de graça, e ficar com eles durante dias. Abre 5 vezes na semana, meio período e, às quarta-feiras é período integral, pois as escolas fecham, assim a Mediatéque vira um dos programas do dia.

O uso da internet é gratuito (reserva com antecedência) e é possível fazer fotocópias e imprimir documentos a preços módicos. Me ajudou a sobreviver nesses 2 meses "desconectada" e sem escritório (escaner, impressora etc). Fiz bastante pesquisas também pra algumas matérias que me incomendaram.

Além de ser bonita e agradável, há um charmoso cantinho de leitura pras crianças, com vários livros à mão delas.

O silêncio não pode ser transgredido. Aos poucos, Luna aprende a não correr e gritar por seus corredores. Quando se acalma (depois de muitos susssuros meus no ouvido dela),  se senta para ler livrinhos, quando não está tentando fazer amizade com outras crianças, mais comportadas, que leem.

É a minha deixa. Escolho os DVDs e o livros do dia. O primeiro livro alugado foi Lestat Le Vampire de Anne Rice. E o DVD Le Soleil Vert com Charles Heston, filme visionário de 1970 - acho que não tem no Brasil pra alugar, mas se tiver, é um programa obrigatório, assistir.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Bejim, beijim. Pau pau.

Certo dia no parque, um amiguinho da Luna foi gentil em deixá-la brincar com sua pistolinha de bolha de sabão - depois dela gritar, fazer um escândalo. Ao devolver o brinquedo, eu disse à Luna para agradecer e dar um beijinho no amiginho, a mãe  logo interferiu com seu sotaque verdadeiramente francês, sorridente e pontual:

“Oh, não, não, diga obrigada apenas, e é tudo, está bom.” 

La menthe, le basilic et la ciboulette





Minhas hortaliças estão com tudo e não estão prosas.

Quero fazer paisagismo. Virar super-herói. Salvar o mundo.

Ser BIO

BIO aqui é o "orgânico" brasileiro. BIO de Biologique. Alimentos sem pesticidas, que respeitam o meio ambiente, os animais e ajudam a não esvair as riquezas naturais da Terra. Cedo ou tarde, todos terão que adotar ao BIO, mesmo sendo mais "caro"!

Considere que faz uma "poupança para o futuro do planeta", pagando um pouco mais, ao comprar um produto orgânico.

As revistas francesas femininas, mesmo as de moda, sempre têm o apelo de "faça você mesmo seu jardim"; dão ideias originais, explicam de maneira simples de como cuidar das plantinhas, flores, hortaliças, frutas, verduras ou legumes. 

Pra mim, as dicas são ótimas! Em casa, flor de plástico dura mais tempo do que a natural.

Nos supermercados têm fileiras inteiras com produtos BIO. O selo AB (Agriculture Biologique) faz valer de que aquilo que compra é de fato orgânico. No Brasil ainda estudam a lei, mas por enquanto o certificado não existe.

Aproveitando esse "marketing", fizemos uma horta na sacada da nossa janela. Trouxemos terra do jardim dos meus sogros, compramos um potinho manjerição, outro de salsinha e outro de hortelã. Tenho usado todos os dias pra cozinhar.

O melhor de tudo é o cheiro que fica nos dedos, depois de colhê-los, unh, delícia, cheirinho de manjeirição, de hortelã.... Boa! Vou fazer um chá de hortelã, quer?

Potager



Meus sogros têm seu próprio potager. Morango, batata, hortaliças, alfaces, nabo, tomate, maçã. E um pé de cereja no jardim. Quando vamos à casa deles, colhemos alface pra salada e legumes pra fazer purê ou  jardinière, um pouquinho antes de comer. Com ingredientes simples, sal, pimenta manteiga, tudo fica divino. 

A maioria das casas (as maiores) em Marcoussis tem seus potagers. Atrelado à Prefeitura da cidade, existe a Associação dos Potagers, o associado paga e recebe toda semana verduras e legumes variados da estação. Cestinha surpresa na porta de casa. Não é fantástico esse sistema de orgânicos fresquinhos na porta de casa?

Me inscrevo ou não, o que acham?

A Tempestade

Noutro final de semana estivemos na exposição do expressionista Turner no Grand Palais (Paris). Paramos o carro num estacionamento subterrâneo, a 15 euros, e assim que saímos no 22nd entre lojas da Dior, Prada, (que no dia não tinha nada de especial).

Minha sogra decidiu pedir informação a um casal. O casal, chique e descontraído numa tarde ensolarada, ao bom estilo parisiense, foi muito simpático e perdeu 5 minutos de seu tempo para nos explicar como chegar ao Grand Palais. 

Estávamos a 100 metros do nosso destino, e ele nos fez andar mais 1.000 metros!

Compreensível. São mais de 5 milhões de turistas ao ano que vão a Paris, os parisienses estão de saco cheio de dar informação (quando dão) - penso que deve haver um complô, um código secreto entre os que moram lá, para fazer o turista "refletir" (se fu) e nunca mais pedir informação.

Como os taxistas paulistanos que, cansados de explicar onde é a rua tal, como se fossem GPS humanos, colocam  a placa no ponto de táxi: “Informação R$1,00”. Maneira bem humorada e eficaz de dizer "num enche, se vira, olhe o mapa, leia, preste atenção à sinalização!".

Mas não teve tempo ruim. Nem fizemos tempestade num copo de água. Havia sol!

Paris estava dourada. Demos a volta por uma parte do Sena, e lá estávamos na exposição - para um criança de 3 anos, Luna se comportou bem nos primeiros 20 minutos, mas logo o pai teve que sair com ela, assim que começou a se empolgar, a grunhir. 

Foram brincar numa pracinha e qualquer pracinha em Paris é “a” pracinha.

Dentro do Grand Palais, Turner não me impressionou tanto. E sim, outros artistas.  Mas certamente a entrada paga já valeu pela “A Tempestade”. Soco no estômago. Nervosa, intangível, nauseante. 

Turner dizia aos amigos que havia pintado essa tela de dentro do barco, durante a própria tempestade. Há quem acredite.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Le Conjuguer Figaro

Para conjugar os verbos em francês, o Figaro online tem essa ferramenta fantástica (link abaixo). Foi assim que aprendi a conjugar (e copiei/colei de lá) o verbo peter, que não é tão oral assim, pois quem peida, jamais canta o galo.




Bunda e pescoço, um clássico




Minha maldita surdez é quase maior que a minha vontade de aprender outra língua. Ouço cada dia menos. Num rola língua no ouvido. O som diminui, não chega ao tímpano direito. Aparelhos auditivos não adiantam, nem cirurgia.

Tenho que fixar os olhos nos lábios das pessoas que tento ouvir e estar, de preferência, contextualizada no assunto, me preparando pra dar o chute. Em francês, a pronúncia do “eu”  “ieu" do “ou” é difícil, diferenciar e falar.

Não se pode confundir bunda com pescoço. Cue com Cou

Alguém me chama da direita, viro pra esquerda. Mesmo em português. Pra praticar o francês, peço a informação que já sei a resposta e olho atentamente nos lábios do interlocutor. 

Espero não ter como professor Delon, pois isso me desconcentraria, e gostaria de agradecer minha mãe por Gael Garcia Bernal não ser meu irmão, não ser francês e tampouco meu professor, pois...

Não aprenderia a diferença entre Je Peux, Je Peut.

Capto sons, nem sempre as palavras. Ouço tudo, nem sempre entendo. Quem sabe aqui, ironicamente, eu aprenda a ouvir mais em francês, português, sânscrito e esperanto. Língua curda também.

Ouvido e língua



Falo bem o francês para matricular minha filha na escola, fechar o seguro da casa, do carro, ler Lestat Le Vampire e ficar orgulhosa por entender tudo o quase. Já sei comprar baguete por baguete, não gato por lebre. Peço um café, e ele chega expresso. Preto, para mim, é noire, adoro cinema, mas nem sempre preto é no branco. Chamo a segunda garrafa de champanhe, e o garçom traz do jeito que gosto. Gelada! Escrevo em português, mas franceses me escutam.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Uma cidade chamada Marcoussis

O panfleto publicitário na imobiliária dizia que havia 7 mil habitantes em Marcoussis. Numa segunda-feira, onde o comércio, bancos, Prefeitura estão fechados, pensei alto caminhando pela calçada, com uma carta na mão algo assim “pqp, o correio também deve estar fechado”, mas em francês.

Uma senhora, certamente marcoussissiene, ouviu  e logo contestou:“ Minha querida, aqui não é uma cidade do interior. O correio  abre às segundas. Temos mais de 8 mil habitantes! “. 

Noutra ocasião, na Mediatèque, entre HQs e DVDs, conheci uma brasileira, com o mesmo nome da babá da Luna no Brasil. Aqui, ela também era babá. Conversamos em francês e ela afirmou que a cidade já tinha 10 mil habitantes! 

Fazendo meu cooper matinal, atrás dos quintais enormes e jardinados do bairro, parei para elogiar o potager de um senhor, ele tinha uma grande produção caseira de alface, hortaliças, batata. Durante a conversa, orgulhoso, explicou que as pessoas, umas 9 mil, moravam em Marcoussis porque gostavam dela. 

Disparidades numéricas à parte, vim de uma metrópole com aproximadamente 11 milhões de habitantes e nasci noutra com uns 400 mil. Cidade grande, cidade pequena, esperamos ser bem vindos a Marcoussis, uma cidade abraçada por uma linda floresta e onde Paris respira ao ladinho dela!

Paris mora ao lado

Moramos ao sul e a 24 km de Paris. Na banlieu de Paris, como dizem. Arredores. Periferia. Região Parisiense. Estamos num departamento municipal com o CEP parecidinho com o da capital francesa -  muitos abreviam o país apenas a ela,  Paris.  Mas o que é que essa cidade tem? Diferenças e igualdades. Culturais e comportamentais. E em todo seu país. Voilá! On va voir.