sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011 - Um conto invisível, mas sonoro

Estava aqui pensando em escrever um conto de natal, um micro conto pra desejar ótimas festas de fim de ano aos amigos e à família.
Daí surgiu um conto invisível.
Aos sons dos tchins, de taças de vidro e de cristal (que ecoavam um pouquinho mais), burburinhos e muitas risadas. Gargalhadas.
Apesar de invisível, o conto era sonoro.
Por telepatia, ouvia-se segredos velados, e eles eram uníssonos. Calor, apertos. Divertidas onomatopeias, um bum bum bum forte dentro de cada um.
Nele, senti o 2011 chegar como a explosão do ensaio da bateria de uma escola de samba.
Alguém gritou: Um ano novo de puta madre pra todos nós! Daí estralos beijos-abraços. 
Uma rolha estourou com bastante pressão e, nesse momento, o áudio é o silêncio, desejos mudos se idealizaram. O meu...
Que as bolhas, que flutuam com persistência de um bom champanhe, submirjam o desejo de cada um de vocês em realidade!
Viviane Fuentes

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Professora "Super-heroína"

Na sala de aula, a professora utilizou a própria vida como exemplo para demonstrar maneiras corretas e usuais de se apresentar a alguém, um empregador ou um de nós, alunos.

Fazia esgrima uma vez por semana (participou até de campeonatos), corria duas vezes por semana e às quartas-feiras jogava tênis com os amigos... Ainda bem que parou por aí, estava ficando sem fôlego.

Ao final da apresentação ultra esportiva, duas das quatro alunas africanas que fazem o curso comigo (uma tem 5 filhos a outra, 6) conversaram e concluíram entre elas, com um sotaque bem pontuado no francês:

- Como ela (a professora) consegue?
- Mas não, ela já disse que não tem filhos, e não é casada.
- Ah...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Viúva Fresca


Mathieu foi pra Irlanda a trabalho e me deixou sozinha com essa garrafa. Sabia que não ia "prestar".  Domingo passado, ela saiu sozinha do ármario e foi se refrescar no parapeito da janela, disse que a neve a deixava mais gostosa e irresistível... Mas que viúva fresca!

No desktop, a vidente e a secretária


Nesse país a previsão do tempo funciona. Adoro quando chove (no outono, por exemplo), chove das 7 da noite às 6 da manhã, grosso modo, fora do horário de trabalho. Mas ninguém na Europa esperava o inverno que aterrisou.

Há 1 século ela não registrava picos de frio como os que veem ocorrendo, e essa neve de personalidade tão imperativa. Daí, o caos. Estradas fecham, ônibus deixam de circular, trens ralentam suas velocidades (de 20 minutos a 1 hora).

Vezes, ficamos ilhados, sem ter pra onde ir. Dá medo. O carro está na porta, não uso, mesmo sendo 4X4, mais seguro nessas ocasiões, não é meu, não tenho a cultura de dirigir na neve, portanto me virei como podia esses dias com a Luna.

Ontem, Luna e eu nos divertimos na neve, não vi ninguém fazendo o mesmo. Aeroportos dia sim dia não fecham. Mathieu está pra chegar, minha mãe está pra chegar, meus sogros com a Luna estão pra chegar. Papai Noel também.

Tenho uma vidente e secretária. O desktop do meu Mac. Mathieu instalou uma ferramenta que me permite ver os horários das cidades onde tenho família e a previsão de tempo da semana inteira, basta encostar o cursor na barra lateral.

Segundo minha vidente e secretária trílingue é de que nos próximos dias dará frio com sol, sem neve. E que toda a família que previu estar aqui, estarea, no quentinho do aquecedor, trocando presentes, batendo papo, brindando, se divertindo. Que assim seja!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Presentes caem do céu?


Como em todo lugar, à noite começa a ficar mais iluminada, muito mais, e a conter desenhos com temas natalinos: Noel, trenó, renas, animais, árvores, algumas poucas ousadias. Ao passear pelo Boulevard Haussmann em Paris, os burbúrios mais ouvidos são os da língua portuguesa com sotoque brasileiro.

Negras de tanta gente estão as lojas de departamentos de grife, como a Gallery Lafayette e Printemps que, apesar de donos diferentes, têm o mesmo vitrinista para o Natal. Do teto luxuoso dessa Lafayette, "caem" caixas enormes de presente, mas não são de graça, mesmo aos que se comportaram durante o ano.

Ao contrário do Shopping Iguatemi em São Paulo, as grifes mais caras começam pelo térreo. Ao subir, decrescem os valores da Gallery. Preços acessíveis apenas aos deuses do Olimpo e suas moedas imaginárias. Negras de tanta gente. Nos caixas, filas enormes. Para embalagem de presente, idem.

Escolhemos o presente da Luna, uma cozinha de madeira em tamanho real (pra 4 anos). Está na moda brinquedos de madeira. É ecológico. Mas não comprei a bolsa mais simples da Chanel, ao meu ver, a coleção de luxo menos careta de todas as marcas - será que Noel da próxima encarnação me dará?

Ao sair da Laffayette, franceses xingam. O trânsito é infernal. A imensa quantidade de turistas demora uns 20 minutos pra atravessar à rua, na raça, os carros avançam. Um ciclista parisiense à cárater "atropela" propositalmente uma pedestre no sinal verde a ele. Se enrubesce, estava errada.

Donos de Masserattis, com cicatrizes italianas, levam multa por pararem em lugares inapropriados. Policiais de trânsito pedem a alguns motoristas que não avancem o carro, sem surtir efeito. Ninguém consegue vaga para estacionar sem rodar menos de uma hora. Estacionamentos pagos têm raras vagas.

Esse é o início das compras de um feliz e caótico natal no centro de uma das cidades mais visitadas no mundo. Jingle Bells!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Bonne Fête Viviane: A Gafe

Recebi um e-mail no celular da minha nova amiga marcoussissienne. Nele, o título "Bonne fête Viviane". Li a mensagem enquanto dirigia e logo teclei "Bonne fête a vous aussi" (Boa festas pra vocês, à ela e sua família, também). E enviei.

Depois me perguntei: Que festa? Hoje é aniversário da cidade? Algum feriado que não conheço? Concluí que desde o início de dezembro os franceses deviam desejar "Boas Festas" aos amigos.

À noite, ainda encacufada, tentei descobrir que festa era, e Mathieu, apesar de não saber também, levantou uma boa questão e desvendou mistério: "Está escrito "boa festa" ou "boas festas"? Era singular, não plural como deduzi, e não li.

Dia 3 de dezembro comemora-se a Festa da Santa Viviane. No imediatismo internético, com o teclado do celular à mão, erroneamente, desejei Boa Festa de Viviane, a João, Maria e José, a quem não era Viviane.

No seu aniversário, desejar feliz aniversário ao seu convidado? Putz, que gafe!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ça tombe la neige


Ontem nevou aqui. Nevou MUITO. De manhã, ela foi anunciada: de 3 a 7 cm de neve em "Ile-de-France". Depois do meio-dia, a realidade chegou à 11 cm! Maior recorde ocorrido na França desde 1987.

Enquanto isso, no Sul do País, Marselha ou Toulose, uns 16 graus. Turistas e locais desfrutavam suas bebidas nas terraças dos cafés ouvindo notícias no rádio ou na TV, se aquecendo com fachos de sol, sem a menor sombra dela.

Mas, antes que a manhã terminasse, o Ministro do Interior disse “não haver desordem”. Algumas horas depois, engarrafamentos de mais de 367 km. Autoestradas interditadas. Motoristas que rodavam 1 km em 2 horas, ou 4 em 6.

À noite, moradores próximos às estradas bloqueadas, solidários, levavam café aos motoristas. Loja de móveis, escolas, shoppings se transformaram em albergues. Muitos abandonaram seus carros e pernoitaram onde puderam.

Atravessar a região parisiense, de carro, moto, avião, se tornou um pesadelo durante a eternidade para muitos. Felizmente, não para Luna que não tem aulas às quartas nem para mim que também não tenho curso de francês nesse dia.

Curso que me toma quase toda a semana, mas essa manhã, não há ônibus, por isso posso me ocupar deste post...Mas muita gente ainda está "sequestrada" pelo caos e pelo perigo que o excesso de neve causou.

Felizmente durante toda essa loucura, ontem, Luna e eu brincávamos sob e sobre forte neve, fazendo micro-homens-de-neve enquanto o céu acinzentado de esfarelava em flocos de poesia.

Obs: Uso aqui 2 fotos extraídas do acontecimento de 8 de dezembro de 2010 do jornal Le Monde - os autores são Smail Yasar (estacionamento da banlieue parisiense) e de Natacha Legre (placa em Paris).